Ainda Estou Aqui: Quando lembrar é um ato de resistência
Quando a ditadura escondeu corpos, a memória insistiu em manter viva a presença de quem foi levado.
É uma narrativa onde o silêncio diz tanto quanto os diálogos, especialmente nas cenas em que Eunice fica presa, sem saber ao certo quantos dias ficou na cela ou quando ela retornaria para casa, após o cárcere. A ausência física de Rubens se transforma em presença simbólica na trama.
Ainda Estou Aqui foi celebrado em diversos festivais internacionais. Venceu o Oscar de Melhor Filme Internacional em 2025, foi destaque ganhando o prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Veneza, onde o filme foi aplaudido por dez minutos ininterruptos, além de garantir o Globo de Ouro de Melhor Atriz para Fernanda Torres.
A atuação de Torres foi especialmente exaltada pela jornalista Alissa Wilkinson no The New York Times: “Em sua performance, que lhe rendeu um Globo de Ouro e está visando uma indicação ao Oscar, Torres atordoa. Proteger seus filhos significa a alegria no meio do medo, a segurança no meio da dor. Torres sobrepõe sua performance com todas essas emoções, e seus olhos, cheios de busca, são magnéticos”. Por outro lado, a atriz recebeu críticas pontuais, como do jornal francês Le Monde, que considerou sua interpretação "monótona".
Ainda Estou Aqui é algo monumental para o cinema brasileiro. Com direção precisa, uma atuação inesquecível de Fernanda Torres e uma mensagem profundamente humana e política, o filme é, ao mesmo tempo, uma homenagem, uma denúncia e um memorial. Um retrato íntimo da dor familiar que se transforma em força e luta coletiva pela verdade.

Ainda Estou Aqui (2024), dirigido por Walter Salles, é uma adaptação cinematográfica do livro autobiográfico de Marcelo Rubens Paiva, filho do deputado Rubens Paiva (interpretado por Selton Mello) e de Eunice Paiva (interpretada por Fernanda Torres), casal que protagoniza a narrativa. Quando Rubens Paiva desaparece após ser preso por agentes do regime militar, filme segue a luta solitária de Eunice por justiça e a verdade sobre o desaparecimento do marido, ao mesmo tempo em que cria os filhos e mantém viva a memória de Rubens.O roteiro de Ainda Estou Aqui, de autoria de Murilo Hauser e Heitor Lorega, é, ao mesmo tempo, íntimo e político. O diretor Walter Salles opta por alternar momentos do passado, como a rotina da família antes do sequestro de Rubens, com os anos seguintes de dor, silêncio e resistência. Há uma delicadeza no modo como o roteiro revela a opressão, evitando cenas explícitas de tortura e focando no impacto psicológico e emocional do regime militar na família.
Marighella: Um Filme de Luta, Memória e Resistência
Wagner Moura estreia como diretor ao reconstituir, com força política e estética, a trajetória do guerrilheiro Carlos Marighella, enfrentando censura, racismo e autoritarismo dentro e fora das telas.
Chamado de “Preto” por seus companheiros de luta, Marighella ganha vida por meio da interpretação marcante de Seu Jorge, que entrega uma performance intensa e envolvente. O filme se destaca não apenas pela qualidade técnica, mas sobretudo pelo seu peso político e cultural, um dos lançamentos mais importantes do cinema brasileiro recente, independentemente das opiniões ideológicas sobre o personagem retratado.
A narrativa acompanha a repressão brutal e organizada que se abateu sobre Marighella e seus companheiros, com o apoio dos Estados Unidos e conduzida por um detetive cruel (interpretado por Bruno Gagliasso), que age movido pelo ódio e racismo, com o objetivo declarado de “matar o preto”. O cenário retratado remete diretamente ao contexto atual, e o roteiro faz questão de inserir críticas sutis, mas incisivas, ao autoritarismo contemporâneo, traçando paralelos com o regime militar dos anos 1960.
Mesmo antes da estreia oficial, o filme passou a ser alvo de ataques coordenados por grupos ideológicos. Um exemplo foi a ação para inundar o site IMDb (Internet Movie Database, hoje pertencente à Amazon) com avaliações negativas, o que levou à remoção temporária da página e à posterior mudança nas regras do próprio site. Esse tipo de reação evidencia um país em que artistas passam a ser tratados como inimigos, reflexo do ambiente de intolerância política e cultural.
Durante a estreia do longa, em entrevista ao programa Roda Viva, Wagner Moura fez declarações fortes: “Geralmente, os acusados de terroristas são os pobres, o MST, o BLM. Isso sempre me incomodou muito. 600 mil mortes por Covid que é terrorismo. 19 milhões de pessoas passando fome, é terrorismo. Amazônia pegando fogo, para mim, é terrorismo. Um ministro da Economia com contas offshore enquanto o povo paga um imposto alto, é terrorismo”.
No dia 4 de novembro, data marcada por sua morte, relembra-se o assassinato de Marighella, há 52 anos. Ele foi surpreendido em uma emboscada na alameda Casa Branca, em São Paulo, e morto a tiros por agentes do DOPS, o Departamento de Ordem Política e Social, órgão de repressão usado especialmente durante o Estado Novo e a Ditadura Militar. A operação foi liderada pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury.

Após ser elogiado em sua estreia no Festival Internacional de Berlim, em 2019, o filme Marighella (2021), primeiro trabalho de direção do ator Wagner Moura, finalmente foi lançado nos cinemas brasileiros. Isso só foi possível graças a uma intensa mobilização e resistência, diante de um contexto político que dificultou sua chegada às telas. A produção resgata a trajetória do baiano Carlos Marighella, figura central na resistência à ditadura militar e considerado um dos maiores inimigos do regime. Marighella foi preso quatro vezes ao longo da vida, a primeira ainda aos 20 anos. Atuou durante 33 anos no Partido Comunista do Brasil e, posteriormente, fundou o grupo armado Ação Libertadora Nacional. Desde seu anúncio, o longa gerou discussões e controvérsias, principalmente por abordar a vida de um militante comunista em meio a um momento conservador na política nacional. A escolha de Seu Jorge para interpretar o protagonista também provocou debates, o diretor optou por ressaltar a negritude de Marighella, indo na contramão do cinema nacional que, como Moura critica, frequentemente “embranquece” seus personagens históricos.
A Juventude na Ditadura Militar
Filme "O Que É Isso, Companheiro?" mostra a Ditadura de forma mais sensível por aqueles que se viram na obrigação de lutar pela democracia do país.
No filme, por exemplo, é possível ver a vida familiar de um militar torturador (Marco Ricca) e de como ele lida com as aflições da esposa (Alessandra Negrini) ao saber de seu trabalho. Mas no foco da narrativa, ao acompanhar o grupo de militantes, podemos enxergar os personagens principais como jovens cheios de sonhos, que tiveram suas vidas interrompidas por um regime ditatorial. Isso é enfatizado na relação de Maria (Fernanda Torres) e Paulo (Pedro Cardoso), mas também em momentos em que a personagem Renée (Cláudia Abreu) liga para o pai para falar sobre o que está acontecendo, além da relação da mesma com o próprio embaixador.
A adaptação cinematográfica apesar de abordar temas como tortura e perseguição política não faz isso de forma explícita, mostrando os horrores da época, faz isso de forma meticulosa e delicada, justamente para a construção da narrativa, se formar em volta dos sentimentos e percepções dos personagens para além das barbáries da época.
O filme "O Que É Isso, Companheiro?" carrega um elenco de peso com atores brasileiros e americanos como Fernanda Torres, Alan Arkin, Pedro Cardoso, Matheus Nachtergaele, Selton Mello, Fernanda Montenegro, entre outros. As grandes atuações garantiram indicações importantes ao filme, como a de Melhor Filme no Festival Internacional de Berlim e ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
Apesar de ser também um filme de ação, a adaptação aborda o tema da Ditadura Militar brasileira de forma delicada e sensível, que nos faz refletir o impacto de regimes ditatoriais e conservadores na vida das pessoas, principalmente na dos jovens, não só durante o período, mas a longo prazo.

"O Que É Isso, Companheiro?" foi lançado em 1997 e é baseado no livro autobiográfico do jornalista e político Fernando Gabeira. A adaptação cinematográfica, que tem roteiro de Leopoldo Serran e direção de Bruno Barreto, conta a história do sequestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick (interpretado por Alan Arkin), ocorrido em setembro de 1969 no Rio de Janeiro. A história narra o planejamento e a execução do sequestro feita por integrantes do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) e da Ação Libertadora Nacional (ALN) em prol da libertação de presos políticos em pleno regime militar brasileiro.
Apesar de o filme abordar a resistência política dos personagens à frente na luta armada, ele procura se aprofundar mais nas relações interpessoais e nos sentimentos de cada um, procurando romper esteriótipos e dar vida para os personagens para além de suas atuações políticas e partidárias.
Filme O Mensageiro: A resistência feminina
O longa metragem “O Mensageiro”, traz à tona a violência e barbárie dá Ditadura Militar com as mulheres, que foi além dá perseguição política, se tornando uma violência de gênero.

O longa “O Mensageiro” é um drama nacional lançado em 2023, dirigido por Lúcia Murat, inspirado na história da própria diretora, presa durante a Ditadura Militar. A trama se passa em 1969, considerado um dos “anos de chumbo” (1968 à 1972), no período mais violento de toda ditadura, a jovem Militante Vera (Valentina Herszage) de 20 anos, inicia sua jornada no Movimento Estudantil e depois na luta armada, resultando na prisão da mesma em uma fortaleza militar.
O longa mostra a violência e brutalidade do regime e como ele abala a estrutura de uma família inteira, com foco na relação entre a mãe de Vera, Maria (Georgette Fadel), uma mulher conservadora que diante da luta de sua filha e sua busca incansável por respostas, vai se transformando e mudando suas opiniões políticas.
Além disso, o filme também mostra um pouco da visão de Oficiais do Exército que eram contra as práticas realizadas pelo regime. Armando desde o início mostra seu incomodo com as torturas, ao se aproximar da família de Vera consegue deixar aflorar seu lado humano e sua indignação com as atrocidades que presenciou em seu trabalho.
O Filme que participou do Festival do Rio 2023, também premiado no México e em Portugal, revisita um passado sombrio da história do Brasil, exaltando principalmente a importância das mulheres pela volta dá democracia e de como elas foram silenciadas e negligenciadas durante todo esse período.
O longa “O Mensageiro” é um drama nacional lançado em 2023, dirigido por Lúcia Murat, inspirado na história da própria diretora, presa durante a Ditadura Militar. A trama se passa em 1969, considerado um dos “anos de chumbo” (1968 à 1972), no período mais violento de toda ditadura, a jovem Militante Vera (Valentina Herszage) de 20 anos, inicia sua jornada no Movimento Estudantil e depois na luta armada, resultando na prisão da mesma em uma fortaleza militar.